segunda-feira, 27 de abril de 2015

A estação Praça da Revolução

Und der dies Lied euch singen tat,
lebt in einer neuen Welt.
Der Kumpel, der Mushik, der rote Soldat
hab'n die euch hingestellt




Aqueles que ouviram uma canção alemã conhecida como Oktobersong, da famosa banda Oktoberklub, poderiam se perguntar se os alemães Peter Hacks e Rolf Kuhl estiveram na revolução ou na estação Praça da Revolução, pois caminhar por esta estação é como estar caminhando nas letras da famosa canção alemã que nos fala do heroísmo do kumpel (cuja tradução agora me faltou), do mujique e do rote Soldat (o soldado vermelho).

Na estação Praça da Revolução estão esculpidos os personagens principais da Revolução Russa, marinheiros (já foi falado sobre eles aqui), o camponês, o operário e o soldado. Adicionalmente, estão também monumentos a cidadãos comuns. As esculturas, feitas em bronze, são tão bem feitas e vivas que alguém pode facilmente impressionar-se com a arquitetura dessa famosa estação de metrô, próxima da Praça Vermelha.

Embora a União Soviética tenha acabado desde 1991, a estação é digna de seu nome, afinal foi no período socialista que foi construído o metrô de Moscou. Antes da revolução havia um projeto para construir o metrô, mas ele foi rejeitado pelos aristocratas russos, afinal, que tipo de aristocrata iria querer "se meter com a ralé"? Eu tive a chance de conhecer uma descendente da aristocracia russa, de uma família de nobres documentada até em fotos datadas do século XIX. Também tinha um português fluente. Era uma pessoa bastante desagradável e egoísta, o único encontro desagradável que eu tive na Rússia (e não foi nessa referida estação). Recordo-me de uma conversa que tive com uma russa descendente da nobreza, ela dizia como achava um absurdo que os bolcheviques "transformaram as 7 casas de sua família em bibliotecas". Isso explica o porquê de muitos russos terem aversão a pessoas de origem aristocrática.

Perdoe o leitor pelo uso de um termo mais picante, mas sou obrigado a questionar, que tipo de idiota precisa de 7 casas para morar enquanto alguns dormem na rua? Tantos russos moram confortavelmente em apartamentos não maiores que 70 metros quadrados e alguns precisam de 7 casas??? Para um elitista, um nobre, um aristocrata, nada é mais abominável e incômodo saber que no assento do avião ao lado vai o filho da empregada. Ou que há bicicletas na rua dividindo o mesmo espaço com os seus luxuosos automóveis importados, e essa questão da bicicleta é até alvo de protesto de elitistas em cidades como São Paulo.

A nobreza russa teve sua importância até meados do século XV, quando os nobres eram geralmente guerreiros que ganhavam terras de príncipes russos por seus serviços prestados. Ela começou a perder sua importância a partir do reinado de Ivan III, quando se tornou um grupo de conspiradores interessados apenas em privilégios. O tzar Ivan IV, o terrível, é celebrado e respeitado na Rússia por ter combatido a nobreza, que segundo muitas evidências envenenou sua mãe, ele criou, muito antes dos bolcheviques, um órgão de cavaleiros negros que reprimiam a nobreza, conhecido por sua veste negra, os oprichiniki. Mais tarde, outro tzar que entraria em violento confronto com a nobreza da época seria Pedro, o Grande, acusado até de heresia por clérigos ortodoxos ligados à nobreza. No campo da literatura, Goncharov (ele mesmo um aristocrata menor), criticou a nobreza em "Oblomov", escrito em Simbirsk, cidade natal de Lenin. Em Oblomov, Goncharov nos traz um personagem nobre que durante metade do seu romance está em cima de uma cama, uma crítica ao parasitismo e à inutilidade da nobreza na Rússia. No século XX, Lenin, em suas obras, clamou pela derrubada da nobreza e do tzar, dos liberais, em outubro de 1917, contra os privilegiados que nada produziam para a sociedade.

Esse foi esse o mundo que em 1917 os bolcheviques destruíram e por isso são honrados nessa estação na figura do camponês trabalhador, do marinheiro, da mãe, de pessoas simples que edificam a sociedade, na Estação Praça da Revolução.


Um soldado vermelho com o seu cão de guarda. O focinho possui uma cor diferenciada do resto do monumento, alguns sustentam que se deve ao fato de muitos apalparem o seu focinho. Reza uma lenda que apalpar o focinho do cão traz sorte. Então é comum que alguns transeuntes, por mais apressados que estejam, voltem apenas para tocar o focinho do cão. 
Um "mujique", figura popularizada pelos escritos de L. Tolstoy
Um marinheiro revolucionário, com um revólver e uma granada tipo "espremedor de batata". Consta-se que esse revólver já foi roubado 3 vezes e substituído por um novo na estátua.

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