sábado, 25 de abril de 2015

O povo armênio, vítimas de um genocídio acolhidos na Rússia



Os armênios são um povo muito antigo. De acordo com algumas fontes, foi o primeiro povo adotar como religião oficial o cristianismo, antes mesmo do Império Romano. Conta-se que de lá vieram os reis-magos.


Durante o século XX os armênios sofreram o primeiro grande genocídio, o Genocídio Armênio, assunto que é tabu na Turquia. Conquistados pelo Império Turco, que se envolveu nas escaramuças da Primeira Guerra Mundial, eles foram levados a uma grande marcha no deserto, que acarretou na morte de muitos deles. Muitos foram crucificados e abandonados a própria sorte. Esse destino infeliz os levou a buscar ajuda do norte, de um país recém formado, a União Soviética, que fez o possível para acabar com esse genocídio. Muitos armênios fugiram para diversas partes do mundo, conhecendo uma grande diáspora, para a Rússia, e mesmo para países além do mar como o Brasil e os Estados Unidos.

Assim, um dos meus primeiros contatos com a cultura armênia foi através da novela "Rainha da Sucata", que apresentava um personagem conhecido como "Dona Armênia", representado pela célebre atriz Aracy Balabanyan, ela mesma uma real armênia. Também sempre me chamou a atenção por ser um dos primeiros países do mapa-mundi, após sua separação da URSS. O interesse nessa cultura cresceria ainda mais após conhecer alguns armênios pela internet, dentre os quais um russo-armênio que fala fluentemente o português e também é professor de capoeira. Nas próprias palavras dele, a capoeira o salvou de muitas situações embaraçosas em clubes noturnos nos anos 90. Também chamou a minha atenção uma armênia-ucraniana que conheci, médica, que até participa de grupos de dança folclórica. Além disso tive como instrutor de kung fu um professor descendente de armênios. Há duas características que os tornam quase inconfundíveis, o sobrenome, quase sempre terminado em "yan" (Hachaturyan, Balanyan, Kardashyan...) e o nariz grande em formato de bico de papagaio. São em geral morenos, brancos. Muitos se passariam facilmente por um brasileiro do Rio Grande do Norte.

Mas há outra característica marcante dos armênios, que é sua receptividade e calorosidade. Até hoje todos os armênios que conheci eram pessoas muito agradáveis, dentre os quais uma senhora que citei em outra postagem que até me presenteou com uma camisa de paraquedista extra quando falei de dois amigos armênios. Eles também são muito próximos dos russos. Há em Yeryevan uma universidade eslávico-armênia, onde são formados profissionais de diversas áreas, especialmente da área médica. Além do armênio, que tem um alfabeto próprio, muitos falam russo com bastante fluência. 



Na Rússia é possível ver muitos armênios, especialmente em cidades como Moscou e Tula, onde eu estive. Lá, conforme dito aqui, há até um hotel chamado "Armênia", onde muitos funcionários são armênios e é servida a culinária armênia. Praticamente um pedaço do país em solo russo. Assim como os russos, muitos armênios se encantam facilmente com os brasileiros, a despeito do fato de que nos anos 20 e 30, por sua simpatia pela União Soviética, inclusive dentre pessoas de direita, muitos armênios foram perseguidos pela polícia política, no Brasil, como "agentes de Stalin". Muitos armênios que conheci na Rússia referiam-se também aos russos de forma bastante positiva.

Ontem, em vários lugares do mundo, foram feitas grandes passeatas da comunidade armênia pelo mundo todo em respeito ao Genocídio Armênio, praticado em 1915, um assunto que é tabu na Turquia e que muitos países que lideram a coalizão da OTAN se recusam a reconhecer, para "não manchar a reputação de seu aliado turco", lembrando que a Turquia é membro da União Europeia.

Ao contrário do que acontece a outros povos vítimas de genocídio, por exemplo os judeus, não há qualquer tipo de revanchismo por parte das autoridades armênias e nem de particulares, no sentido militarista dessa palavra.

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