sábado, 25 de junho de 2016

Um encontro com o soldado libertador


Hoje, dia 22 de junho, tive a grande honra de conhecer o soldado-metralhador soviético Zahar Hatchatryan, veterano da IIGM, libertador da Tchecoeslováquia, Hungria e da Alemanha, participante da Batalha de Berlim. 

Eu o conheci por acaso, na parada de ônibus, eu nem pensava em ir ao metrô de ônibus hoje, mas por acaso vi um idoso sentado, humilde, calmo, até que minha vista capta um enorme número de medalhas, o que rapidamente prendeu a minha atenção. Discretamente tentei inspecionar suas condecorações, procurando a de "Herói da União Soviética". Embora não a tenha encontrado, isso em momento algum diminuía a minha admiração pelo veterano, que permanecia calmo. 

Sem falar nada sobre si, o seu filho, que até parecia um brasileiro, devido à sua pele escura, armênio, me falava sobre o seu pai (sem dizer que era seu pai), apenas comentou que ele era " um veterano muito conhecido". Mencionei que estava indo para a Praça do Palácio, e eles comentaram o mesmo.
Durante a conversa, o filho me contava a história de seu pai, sobre o que ele fazia, um soldado-metralhador, função de enorme risco, que em geral é digna da atenção mortal do sniper. O metralhador é em regra o primeiro alvo de um sniper, e foi exatamente isso que aconteceu a sei pai na Batalha de Berlim, num momento crucial, ele foi alvejado por um sniper, tendo fragmentos do projétil atingido o seu coração. 

Sobrevivendo milagrosamente, Zahar foi aposentado por invalidez, recebendo uma pensão especial conhecida como "pensão stalinista", o que não o impediu de seguir uma vida normal. Formou-se em uma faculdade de artes e se ele se destacara pela sua bravura na guerra, passou a se destacar na sua vida como pintor realista. Em seu terno podemos ver ao lado direito a medalha "Artista emérito", atribuída aos melhores pintores da URSS e da Rússia. 

Embora acreditasse na palavra do filho, tive a curiosidade de, durante a escadaria da estação mais profunda de São Petersburgo (a do Almirantado, com quase 100 metros subterrâneos), fazer uma rápida pesquisa no Google, que não apenas jogou resultados da Wikipedia com o libertador de Berlim, como vários quadros seus, logo me dei conta imediatamente do fato de que estava diante de uma lenda viva do Exército Vermelho!

Chegando na Praça do Palácio, me impressionava a humildade do pintor e herói da Segunda Guerra, quando este se dirigiu à coluna de tanques estacionada para a exposição, onde havia vários reconstrutores históricos do Exército Soviético, alguns duvidavam que essa lenda fosse real, primeiro pelo seu estado físico, nenhum veterano tem menos de 85 anos, e para tal idade, Zahar parecia ser bem mais jovem, aparentando cerca de 70 (e sua barba branca ajudava nisso). Além disso, o seu grande número de medalhas ajudava a aumentar essa dúvida, pois hoje qualquer um pode comprar medalhas da IIGM num bom antiquário.

Em nenhum momento ele fazia questão de mostrar os seus documentos, que vi pessoalmente quando ele entrou gratuitamente no ônibus. O seu filho fazia questão de discutir com os "céticos", e ele dizia calmamente, "não precisa discutir".

Chamou a atenção o controle emocional dele, quando sentamos no vagão de metrô, ele comentou que ficou impressionado por "não ter visto no vagão um só dos seus camaradas da guerra". O mesmo chamou a sua atenção na Praça do Palácio. Era como se naquela ocasião ele fosse o último grande herói soviético.

O filho de Zahar me perguntava sobre o Brasil na guerra, falei que em Fortaleza conheci um padioleiro veterano da Itália. Uma pergunta me foi feita pelo filho do herói, "no Brasil, quem é mostrado como o vencedor da guerra"? Olhando para o herói soviético, respondia com grande pesar, "infelizmente, no Brasil, como em todo o ocidente, é mostrado que os americanos foram os grandes responsáveis". Eu respondia aquilo como se tivesse respondendo sobre um grande crime do qual fui cúmplice. Se depender de mim, um dia esse crime, essa grande mentira um dia vai acabar!


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