quarta-feira, 17 de maio de 2017

Bronzear-se na Fortaleza de Pedro e Paulo

Uma das melhores coisas para fazer em São Petersburgo num dia ensolarado sem dúvidas é bronzear-se na Fortaleza de Pedro e Paulo. Quem se bronzeou em Fortaleza, não vai se arrepender de se bronzear "na Fortaleza", há sol o suficiente, e mesmo que a temperatura esteja perto de 10 graus, o simples ato de se encostar na parede de pedra torna tudo melhor, já que a laje irradia o calor do sol e corta o vento vindouro. Certa vez um turista paulista, vestido da cabeça aos pés, admirou-se diante de mim pela coragem dos russos. Uma amiga americana postou em seu Instagram uma foto na qual a mesma turma bronzeava-se em pleno dia com gelo e neve!
Em vez do oceano pode-se ter uma excelente visão que inclui a Catedral do Sangue Derramado, de Santo Isaque, Hermitage, dentre prédios históricos que por si só já são um museu. Mas a melhor parte é a possibilidade de conversar com cidadãos soviéticos. Os jovens de São Petersburgo parecem não gostar de se bronzear, ao menos não em São Petersburgo, meu antigo vizinho fez questão de comparar a tonalidade da pele dele com a minha após passar 2 semanas se bronzeando no mar negro em Krasnodar. 
Ao contrário das praias do Nordeste (do Brasil!), pode-se passar o dia inteiro sob o sol sem se preocupar com queimaduras, afinal, lembremos que estamos no norte do nosso planeta. O melhor de tudo isso é que os cidadãos soviéticos frequentemente tem conversas muito interessantes. Certa vez conheci Volodya, um ancião nascido nos tempos de Stalin, com uma longa barba, como um profeta ou um monge ortodoxo, um ancião bastante sábio, ele me falava da vida na União Soviética e na Rússia de hoje, os prós e os contras de cada. Ele e seu amigo me convidaram para retornar depois para beber kvas caseiro com eles (kvas é uma bebida russa feita a partir do pão, muito gostosa).
Além da visão e da fala, também é contemplado o sentido da audição. A música que os russos, ou melhor dizendo, os soviéticos, ouvem na praia é a melhor possível. Pode-se ouvir grandes clássicos da música francesa e italiana, o meu vizinho até ouvia "Roberta" de Peppino di Capri, minha música favorita da Itália. Claro que somava-se a isso grandes clássicos da música soviética como Georgiy Ots e Mark Bernes, e na trilha sonora ainda entrava a música de Anna Guerman, uma magistral cantora polonesa filha de alemães soviéticos que cantava em russo (Guerman é forma russificada de Hörman), dona de uma voz divina (após a sua morte, os astrônomos soviéticos consagraram o nome de uma estrela com o seu nome). Uma concepção um pouco diferente de praia.
Infelizmente, no Ocidente decadente muitas pessoas estão muitos preocupadas com valores "metrossexuais", e assim estão muito mais preocupados não com o momento em si e a sensação, mas sim em avaliar o estilo de traje de banho que o outro está utilizando ou em reparar em certos detalhes desnecessários, como um rapaz que parecia nunca ter visto uma senhora se bronzear sem a parte de cima ou um jovem que ficou impressionado com uma foto minha em traje de banho com duas garotas vestidas de casaco, foto que tirei para o contraste, mas que despertou fantasias pervertidas na sua mente suja ocidental consumista, o que o mujique russo, a versão russa do caboclo, do "cabra macho" nordestino, chama em sua música popular de "cultura sodomita" (com todo respeito por aqueles que discretamente seguem seu estilo de vida peculiar).



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